Com abertura monumental nos Arcos do Valongo, evento gratuito ressignifica seu espaço e consagra o encontro de gerações na voz de Alice Caymmi e Catto em tributo a Gal Costa e Caetano Veloso.
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Em um movimento que transcende o mero entretenimento para se afirmar como um ato cultural potente, o 13º Santos Jazz Festival, agendado para 25, 26 e 27 de julho, se apresenta não apenas como um evento, mas como uma tese. A edição de 2025 abandona o conforto dos teatros em sua noite de abertura e ocupa o espaço público dos Arcos do Valongo, um gesto simbólico que reflete uma curadoria cada vez mais engajada com as noções de democracia, memória e vanguarda.
O ponto nevrálgico desta edição é, sem dúvida, sua noite inaugural. A homenagem aos 80 anos que seriam completados por Gal Costa, ao lado da celebração à obra de Caetano Veloso, estabelece um panteão. A escolha dos intérpretes para essa liturgia musical é uma declaração em si: Alice Caymmi e Catto. Neles, o festival não busca a emulação, mas a reinterpretação. Caymmi, com sua herança genética e sua estética desconstrutora, e Catto, com sua visceralidade andrógina, representam a passagem de bastão de uma tradição que se recusa a ser peça de museu. Acompanhados pela Orquestra Sinfônica Municipal de Santos, a promessa é de uma confluência sonora que une o popular, o erudito e o disruptivo.
A mudança da abertura para o Arcos do Valongo é a materialização do discurso de pluralidade do festival. Ao levar sua noite mais nobre para a rua, o evento dissolve fronteiras físicas e sociais. “O Santos Jazz tem como identidade a promoção da inclusão e o respeito à diversidade", pontua o curador e diretor de produção, Jamir Lopes. A afirmação não é protocolar; ela é a chave de leitura para uma programação que intencionalmente prioriza artistas negros, mulheres e LGBTQIAP+, transformando o palco em um reflexo fidedigno e necessário da sociedade.
Essa narrativa curatorial se aprofunda no domingo (27), na Pinacoteca Benedicto Calixto. A homenagem a Elis Regina, outra matriarca que completaria 80 anos, ganha um contorno intelectual com o relançamento do livro “ELIS – NADA SERÁ COMO ANTES”. O debate com o autor, o jornalista Júlio Maria, e a performance de Indiana Nomma, criam um espaço de reflexão crítica, provando que o festival se preocupa não só com a execução da música, mas com a perpetuação de seu legado histórico e de suas narrativas.
O ethos do festival é reforçado por seu pilar solidário. A convocação para a doação de alimentos em homenagem aos 90 anos de Betinho não é um apêndice, mas parte central da experiência. Conecta o fruir da arte a um imperativo de consciência social, alinhando o evento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e ecoando o ativismo que marcou a vida do sociólogo.
“Com essa edição, fecharemos a totalidade de shows em pouco mais de 250 apresentações", contextualiza a diretora-executiva Denise Covas, sublinhando a robustez de um projeto que já trouxe ao seu palco deuses do panteão instrumental brasileiro, de Hermeto Pascoal a João Donato.
A 13ª edição do Santos Jazz Festival, portanto, se recusa a ser apenas mais um capítulo em sua história de sucesso. Ela se posiciona como um manifesto. Um manifesto sobre o direito à cultura, sobre a ocupação do espaço público como arena de transformação e sobre a responsabilidade da arte em dialogar com seu tempo, honrando o passado para construir um futuro mais plural e consciente.
SERVIÇO
- Evento: 13º Santos Jazz Festival
- Datas: 25 a 27 de julho de 2025
- Acesso: Inteiramente Gratuito.
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