Em um gesto de reverência e confluência artística, clipe que sela a parceria entre os ícones da música brasileira é lançado no aniversário do mestre baiano, unindo a pulsação do estúdio a um delicado universo animado.

Crédito: Ricardo Brunini

Existem canções que se recusam a pertencer a um só tempo. Elas se tornam territórios abertos, hinos que cada geração reivindica e reinventa. "Vamos Fugir" é um desses monumentos. E quando um de seus mais notáveis herdeiros sonoros, Samuel Rosa, se une ao seu criador original, o imortal Gilberto Gil, para revisitá-la, o resultado transcende a música. Torna-se um documento, uma celebração do legado em movimento.

O capítulo mais recente dessa história foi lançado hoje, 26 de junho, data escolhida com a precisão de um tributo: o dia do aniversário de Gilberto Gil. Trata-se do clipe oficial da colaboração, uma peça audiovisual que espelha a natureza do encontro. Sob a direção sensível de Philippe Noguchi (Kinopocket), o vídeo costura a intimidade crua e a cumplicidade palpável dos bastidores no estúdio Cia dos Técnicos (RJ) com o lirismo lúdico das animações da ilustradora Julia Marinelli. Não é apenas um making of; é um diálogo visual entre o real e o onírico, o processo e a poesia.

Musicalmente, a faixa é uma aula de respeito e reinvenção. Com direção musical e arranjos assinados pelo próprio Samuel Rosa, a nova "Vamos Fugir" foge da armadilha da réplica. A estrutura reggae-rock que Gil eternizou em 1984 é honrada, mas aqui ganha novas texturas e um vigor contemporâneo. A arquitetura sonora é robustecida por um naipe de metais elegante e pulsante, cortesia de Pedro Aristides (trombone) e Petro Mota Jr (trompete), enquanto a seção rítmica precisa de Alexandre Mourão (baixo) e Marcelo Dai (bateria) serve como a âncora perfeita para o voo das vozes.

Para Samuel Rosa, a gravação representa a materialização de um afeto musical cultivado por décadas. A admiração, antes platônica, tornou-se colaboração artística, culminando em um momento de catarse coletiva: a participação especial de Samuel no show de Gilberto Gil no Mineirão. Ali, no coração de Minas, a parceria foi coroada diante de uma multidão, provando que a canção pertence tanto ao estúdio quanto ao estádio.

Com a direção geral do lançamento a cargo de Augusto Nascimento e Flora Gil, o projeto se consolida como uma ponte afetiva e profissional entre dois universos que definiram a música brasileira em diferentes momentos. É o encontro do Brasil pós-tropicalista com o Brasil do rock que explodiu nos anos 90.

Mais do que uma fuga, a faixa e seu clipe se afirmam como um convite ao encontro — de gerações, de ideias, de sons e de Brasis. Um registro magistral que celebra não apenas a genialidade perene de Gilberto Gil, mas a vitalidade de uma obra que continua a inspirar e a se transformar, provando que a verdadeira arte é, de fato, atemporal.