Feirinha do Pavuna abre a noite com samba autoral e Marcelinho da Lua assina a ambiência sonora
Créditos: Victor Correa
O Circo Voador se prepara para receber uma de suas noites mais emblemáticas de 2025. No sábado, 29 de novembro, João Bosco — um dos arquitetos fundamentais da Música Popular Brasileira — volta ao palco da Lapa para um concerto que propõe tanto o reencontro quanto a celebração. Revisita composições que moldaram a história cultural do país, apresenta faixas de Boca Cheia de Frutas, seu mais recente álbum, e integra ao evento o lançamento da exposição “Enroscados”, de Angela Bosco, reforçando o caráter multidisciplinar da programação.
A apresentação marca o fim de um hiato de quase uma década sem um show completo do artista na lona. A espera, porém, promete ser recompensada. Para esta noite, João Bosco reúne uma formação instrumental de elite: Ricardo Silveira (guitarra), Guto Wirtti (baixo), Kiko Freitas (bateria), Armando Marçal (percussão) e o maestro Cristóvão Bastos (teclados) — músicos que, cada qual à sua maneira, ajudaram a construir capítulos essenciais da música brasileira. A apresentação ganha ainda mais brilho com a participação especial de Mosquito, voz proeminente do samba contemporâneo.
No repertório, expansões e memórias se entrelaçam. Estão previstas músicas que atravessaram gerações — “O Bêbado e a Equilibrista”, “O Mestre Sala dos Mares”, “Bala com Bala”, “Kid Cavaquinho”, “Falso Brilhante” — obras que consolidaram a inventividade harmônica, o fraseado singular e o violão de assinatura inconfundível que fazem de João Bosco uma entidade rara: um artista capaz de aliar rigor, lirismo, refinamento técnico e consciência histórica sem concessões ao efêmero.
Nascido em Ponte Nova, no interior de Minas Gerais, Bosco ergueu uma discografia que, ao longo de mais de cinquenta anos, permaneceu fiel a si mesma, ao mesmo tempo em que expandiu possibilidades dentro da MPB. Sua timidez mineira, tão frequentemente associada ao artista fora dos palcos, se dissipa quando ele assume o centro da cena. Ali, transfigura-se em potência — um intérprete magnético que sabe, como poucos, transformar o violão em extensão da própria respiração.
Samba da Pavuna abre a noite e prepara o terreno para a celebração
Quem inicia os trabalhos é a Feirinha do Pavuna, em sua estreia no Circo Voador. A roda de samba itinerante, nascida na Praça Copérnico e liderada por Thauan EL PAVUNA, vem se consolidando como um dos núcleos mais pulsantes da nova cena do samba no Rio. O grupo articula clássicos do gênero a composições autorais dos próprios integrantes — conhecidos como “Os Batuqueiros da Linha 2” — trazendo frescor, identidade suburbana e vigor coletivo para dentro da lona.
Marcelinho da Lua: o elo entre passado, presente e pista
Responsável por guiar o clima sonoro antes e depois das apresentações, Marcelinho da Lua assina o DJ set da noite. Com sua curadoria que cruza brasilidades, beats eletrônicos, grooves globais e sutilezas rítmicas, o DJ cria uma atmosfera que transcende o papel de abertura e fechamento: ele estabelece o tecido sonoro que amarra toda a experiência.
“Enroscados”: quando o ferro ganha memória, dobras e afeto
A noite também marca a abertura da exposição “Enroscados”, da artista Angela Bosco, que permanece em cartaz por um mês. Criado durante a pandemia, o projeto nasceu da experimentação com o ferro dos arames disponíveis naquele período. Entre curvas, espirais e torções, surgiram pequenos objetos que evocam tensão, movimento e delicadeza — uma síntese emocional transformada em matéria.
A mostra carrega ainda um significado especial para a artista: foi no Circo Voador que Angela apresentou suas primeiras obras de papel machê, há muitos anos, a convite de Maria Juçá. Voltar ao mesmo espaço agora, com um trabalho amadurecido e visceral, reforça a dimensão afetiva e histórica deste reencontro.
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