Se a proposta do Festival Turá é, como o nome sugere, ser uma grande "mistura", o seu encerramento neste domingo (29), no Parque do Ibirapuera, foi a materialização perfeita desse conceito. O segundo dia da 4ª edição do evento em São Paulo não apenas atraiu uma multidão diversa, mas consolidou o Festival como um palco onde diferentes gerações e gêneros da música nacional não só coexistem, mas dialogam em perfeita harmonia.
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Samuel Rosa - Crédito @pefreitas_ para @musicontheroad__ e @offtherecord.oficial |
A tarde de domingo se desenrolou como uma linha do tempo afetiva da música brasileira. A abertura com Gabriel O Pensador no Palco Banco do Brasil foi um aceno direto à nostalgia dos anos 90, com rimas críticas e irreverentes que se provaram atemporais, aquecendo o público sob o sol paulistano. Logo em seguida, a transição para o rock mineiro de Samuel Rosa mostrou um artista em plena reinvenção. Apresentando a turnê de sua carreira solo, o ex-líder do Skank mesclou a potência de novos arranjos com a familiaridade de uma voz que é trilha sonora de milhões de brasileiros, provando que sua relevância transcende a banda que o consagrou.
O fio condutor da celebração continuou com uma merecida reverência à Bahia. O encontro de Saulo e do mestre Luiz Caldas foi um dos pontos altos, celebrando os 40 anos da Axé Music. Mais que um show, foi uma aula magna sobre a força percussiva e melódica que revolucionou o carnaval e a música pop do país. A energia contagiante e a troca generosa entre os artistas no palco serviram como um aquecimento de luxo para o que viria a seguir.
E o que veio foi um fenômeno. Subir ao palco depois de uma homenagem ao axé poderia ser um desafio, mas não para o Raça Negra. Comemorando também 40 anos de carreira, a banda liderada pelo inconfundível Luiz Carlos transformou a plateia em um coro uníssono de mais de 20 mil vozes. Hits como "Cheia de Manias" e "É Tarde Demais" não são apenas canções; são patrimônios da cultura popular, e o show foi a prova viva de que o pagode romântico dos anos 90 segue com um poder de atração intacto, unindo casais, amigos e famílias inteiras.
Para coroar a noite, a escolha de Gloria Groove para o encerramento foi uma declaração de intenções do Festival. Se a noite até então havia sido uma celebração do passado e do presente consagrado, a "Lady Leste" chegou para apontar para o futuro. Com sua "Serenata da GG", a artista se despiu da armadura de performer de alta octanagem para entregar um espetáculo de alma pop, mas com o coração na mão. Como ela mesma descreveu, foi um show "romântico, mas também pop e divertido", com uma estética que flerta com a cultura de massa brasileira, do programa de namoro à novela das sete. Ao transformar o Ibirapuera em uma grande serenata, Glória não apenas celebrou o amor em suas múltiplas formas, mas reafirmou sua posição como uma das artistas mais versáteis e completas de sua geração, capaz de navegar por qualquer ritmo com propriedade e carisma.
Enquanto os grandes nomes brilharam no palco principal, o Palco Sol, com a energia contagiante da roda de samba feminina Samba de Dandara e os sets dos DJs nos intervalos, garantia que não houvesse um minuto de silêncio, reforçando a diversidade que é a espinha dorsal do Turá.
Ao fim de dois dias, o Turá 2025 não deixa dúvidas sobre sua importância. Mais do que um Festival, ele é um ecossistema pulsante que entende a música brasileira como uma entidade viva, que honra seus mestres, celebra seus ícones e abre os braços para quem está escrevendo o próximo capítulo. Em um cenário cultural por vezes dominado por atrações internacionais, o sucesso de público e a coesão artística do Turá são um lembrete poderoso: a maior riqueza musical do Brasil está aqui mesmo, e ela nunca esteve tão vibrante.
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