Massacration e Gangrena Gasosa propõem um dos eventos mais intrigantes do calendário musical de 2025: um embate de filosofias onde a paródia do metal encontra sua vanguarda antropofágica. Resta saber o que o público busca: o conforto do clichê ou a contundência da inovação.
Agendado para 27 de junho de 2025, no Circo Voador, o evento encabeçado pelo Massacration e co-estrelado pela Gangrena Gasosa transcende a definição de um simples concerto. Trata-se de uma tese. De um lado, uma banda que construiu sua carreira sobre a desconstrução satírica dos arquétipos mais exauridos do heavy metal. Do outro, um coletivo que representa a mais visceral e autêntica fusão de metal com a identidade cultural brasileira. A noite, portanto, não é uma celebração unificada, mas sim um estudo de caso sobre as contradições e potências da música pesada no Brasil.
O retorno do Massacration com o álbum “Metal Is My Life” após um hiato de 15 anos é, em si, um ato metalinguístico. A banda, que sempre zombou da devoção cega e do discurso autoindulgente do fã de metal, agora adota o mais clichê dos mantras como título de turnê e disco. A promessa de uma performance e qualidade "ainda mais esporrenta" para sucessos como "Metal Milf" levanta uma questão fundamental: a que serve a paródia quando ela se replica por tanto tempo? O apelo reside na nostalgia de uma piada contada à exaustão ou há, de fato, uma evolução na sua execução? A declaração messiânica de Detonator, de que "o prazer, o orgulho e a felicidade de ouvir música será resgatado", soa menos como uma promessa artística e mais como a manutenção de um personagem que se recusa a sair do palco.
Em contraponto direto e quase antagônico, a presença da Gangrena Gasosa no mesmo palco eleva o debate. O grupo não se ocupa em parodiar o metal; ele o canibaliza, o digere e o regurgita com uma identidade inegavelmente brasileira. Seu "Saravá Metal" é um projeto de sincretismo sonoro que atinge um novo patamar de complexidade em “Figa of The Dark”. A inclusão de metais de sopro, as colaborações que vão do punk de Mao (Garotos Podres) ao samba de Igor Vianna, e a ousadia de reinterpretar Kiko Dinucci na voz imortal de Elza Soares não são artifícios. São declarações de propósito. A Gangrena Gasosa representa uma desconstrução estética que não visa o riso, mas a reflexão sobre as possibilidades de um gênero frequentemente limitado por suas próprias regras.
Assim, o público que comparecer ao Circo Voador será confrontado com uma escolha conceitual. Aplaudir o Massacration é celebrar a autoconsciência irônica, o conforto de rir dos próprios excessos e da própria subcultura. Aplaudir a Gangrena Gasosa é engajar-se com a vanguarda, com o risco e com a busca por uma sonoridade que desafia fronteiras.
A "Metal Is My Life World Tour" é, portanto, um título deliberadamente pomposo para um fenômeno complexo. A noite de 27 de junho não será apenas sobre a intensidade dos decibéis, mas sobre a dissonância entre duas visões de mundo. Resta ao espectador decidir qual delas ressoará com mais força quando as luzes se apagarem. A presença do DJ Julio EleMesmo servirá como interlúdio funcional, mas o núcleo da questão permanecerá no embate entre a sátira e a substância.
SERVIÇO
Evento: Massacration | “Metal Is My Life Tour” Co-headliner: Gangrena Gasosa Abertura: DJ Julio EleMesmo Data: Sexta-feira, 27 de junho de 2025 Local: Circo Voador - Rua dos Arcos, s/nº, Lapa, Rio de Janeiro - RJ Abertura dos Portões: 20h
Valores:
- Meia-Entrada / Solidário: R$ 90,00 (Concessões conforme legislação e política do evento, incluindo doação de 1 kg de alimento não perecível).
- Inteira: R$ 180,00
Canais de Venda:
- Online: Plataforma Eventim.
- Bilheteria Física: Disponível no local, 2 horas antes da abertura dos portões (condicionado à disponibilidade).
Classificação Etária:
- 18 anos. Menores de 14 a 17 anos permitidos apenas com acompanhamento de pais ou responsáveis legais.
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