Em um mercado global marcado por estéticas europeias e norte-americanas, Felipe Poeta firma a identidade brasileira nas pistas. O DJ, produtor, cantor e fundador da Tha House Company se prepara para estrear na matriz do Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do planeta, que acontece na Bélgica. O artista carioca sobe ao palco House of Fortune by JBL no dia 25 de julho com um set autoral e recheado de brasilidades.
É a segunda vez que Poeta se apresenta no festival — a primeira foi na edição brasileira, em 2023. Agora, a estreia no palco principal do evento simboliza não só um marco em sua carreira, mas também uma oportunidade de apresentar ao mundo o projeto “RJ Garage”, que funde o UK Garage com o funk carioca e outras expressões da música urbana brasileira.
Em conversa com o Music On The Road, Felipe reflete sobre o alcance da música nacional no mercado internacional, os desafios de lançar novos talentos e a importância de transformar a pista em território de escuta e identidade.
Music On The Road — Felipe, você já sentiu a energia do Tomorrowland na edição brasileira. Agora, você está de malas prontas para a matriz do festival, na Bélgica. Qual é a principal diferença na sua preparação e na sua expectativa ao levar seu som para o palco 'House of Fortune', considerado o berço da cultura do festival?
Mesmo só tendo vivido o festival aqui no Brasil, já posso falar que é uma sensação absurda, é um êxtase. Na primeira edição, mesmo com toda a chuva, eu tive a sorte de tocar num palco pequeno, porém coberto, de onde eu consegui ver bandeiras de todos os lugares da América do Sul e de outros lugares da Europa. Confesso que algumas bandeiras eu nem sabia de onde eram e só de você ter essa noção, enquanto você está em cima do palco, é inexplicável. E é um show onde eu só toco produções autorais e sets ao vivo, misturando com live set, então é incrível ter essa oportunidade, essa vitrine, para poder tocar para um público tão diverso, de tantos lugares diferentes, com culturas diferentes, com as referências sonoras completamente diferentes. De deixar em êxtase e com a perna tremendo enquanto estou falando sobre.
Music On The Road — Além do seu trabalho no estúdio e nos palcos, você é a mente por trás da gravadora Tha House Company. Como o seu lado de diretor artístico, que lança novos talentos, influencia suas próprias produções e a forma como você enxerga sua carreira no mercado global?
A gravadora da Tha House Company me ajuda muito a conseguir me conectar constantemente com as novas sonoridades que às vezes nem chegam no mercado, ou que nem estão no mercado ainda. Como a gente produz artistas tanto de bastante visualização e hype até um artista que está gravando a primeira faixa dele, eu estou sempre em contato com novas referências ou até referências antigas que esses artistas têm e que me conecta com aquele Felipe de 13 anos de idade que estava abrindo o YouTube desesperadamente todos os dias da semana para ver quais eram as novas sonoridades que estavam saindo na época. Além disso, assim consigo manter esse contato com o meu maior amor, que é a música, né?
Music On The Road — Logo após o Tomorrowland, você não tira férias: segue para um evento próprio em Praga. O que o público pode esperar do ‘Tha House co. presents Felipe Poeta’? E qual a importância de ter outros artistas brasileiros, como o Rodrigo Ardilha e o Luca Buzanelli, dividindo essa noite com você?
O Tomorrowland vai ser só o começo. Em Praga, o plano é conseguir fazer uma noite brasileira, por isso que é tão importante estar acompanhado desses talentos que eu admiro tanto e dividir a pista com eles, para que a gente possa mostrar não só as brasilidades clássicas como também o que eu estava falando antes sobre as novas sonoridades, e que seja uma imersão brasileira nessa noite em Praga.
Music On The Road — Você fala com orgulho em levar ‘sonoridades bem brasileiras’ para a Europa. Em um mercado muitas vezes dominado por estéticas europeias e americanas, quais são os maiores desafios e, ao mesmo tempo, as maiores vantagens de se posicionar como um artista que carrega e celebra a identidade musical do Brasil?
Com certeza o mercado internacional é dominado ainda pela sonoridade europeia e americana. Porém, nesses últimos anos, a gente tem visto um grande crescimento tanto de hype quanto da própria sonoridade brasileira influenciando outras, tanto na Inglaterra com drill, vários samples brasileiros sendo usados ou vários ritmos de funk sendo usados junto ao de grime. A gente viu Kanye West soltando músicas com funk de São Paulo, o Mandelão. A gente viu a Anitta fazendo colaborações com o The Weeknd, com samples de Tati Quebra Barraco. Então acredito que a sonoridade brasileira sozinha está conseguindo dominar o seu espaço mais do que merecido internacionalmente. A gente colhe esses frutos desde Carmem Miranda e Vinícius de Moraes, porém, hoje em dia a gente realmente consegue ver a nossa cultura cada vez mais sendo destacada internacionalmente, e vai ser uma honra fazer parte dessa caminhada.
Music On The Road — Depois de uma agenda tão intensa em 2024 e 2025, passando por gigantes como o Carnaval de Salvador e agora o Tomorrowland Bélgica, o que vem a seguir? Qual é o próximo grande sonho ou o próximo desafio que o move como produtor e artista?
O próximo sonho ou realização vai ser o lançamento do projeto “RJ Garage”, que é um projeto que, em conjunto com a Tha House e principalmente com o diretor Marcel Lapa, desenvolvemos o conceito sonoro e o filme que vai sair em seguida do próprio álbum. Todos vão poder ver tanto a sonoridade brasileira ao extremo como ela sendo influenciada diretamente pela cultura eletrônica, então será tanto o “UK Garage” sendo influenciado pelo funk ou o house pelo pagode ou pelo samba. Em cada faixa temos um artista diferente contando um pouco da visão dele sobre o Rio de Janeiro, e o filme acompanha a visão de cada artista, em crônicas. Estou muito ansioso para mostrar isso para o mundo. Agora no Tomorrowland já vou tocar as faixas do lançamento, e logo em seguida, voltando ao Brasil, estamos planejando a estreia do filme, com evento de lançamento. Então, podem ficar ligados que tem muito mais por vir.
Music On The Road — Felipe, agradecemos imensamente por compartilhar seus planos e sua visão conosco. Desejamos muito sucesso em sua turnê europeia e estamos ansiosos pelo "RJ Garage". Um grande abraço e até a próxima!
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