Entre os dias 19 e 21 de setembro, a capital paulista será tomada por uma programação que sintetiza a pluralidade cultural do Brasil em diálogo com o mundo. Em sua quarta edição em São Paulo, o MIMO Festival confirma sua relevância como um dos mais consistentes e abrangentes encontros culturais do país, ocupando espaços emblemáticos do centro histórico, como o Vale do Anhangabaú, a Cultura Artística, a Praça das Artes, a Biblioteca Mário de Andrade e o Centro Cultural São Paulo.
Mais do que um festival, o MIMO reafirma-se como um movimento de democratização da arte. Ao reunir música, cinema, formação artística e debates, a iniciativa rompe barreiras e conecta diferentes públicos, oferecendo acesso gratuito a experiências que transitam entre a tradição e a inovação.
Um mosaico de sonoridades globais
A programação musical deste ano destaca encontros inéditos e diálogos artísticos de peso. O palco do Vale do Anhangabaú, principal ponto de convergência do festival, recebe nomes que simbolizam a força da diversidade cultural. Na noite de abertura, o público poderá vivenciar o transe poético do Cordel do Fogo Encantado, a sofisticação jazzística do pianista cubano Roberto Fonseca e a celebração da cultura africana no projeto Lá no Xepangara, que reúne artistas de Portugal, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola e Brasil.
Nos dias seguintes, o espaço será tomado pela pulsação rítmica da Bixiga 70, pelo blues contemporâneo do trio francês Delgrès, pelo frescor da música da Ilha da Reunião com Votia, além da potência da ciranda de Lia de Itamaracá, patrimônio vivo da cultura pernambucana, que se apresenta ao lado de Buhr, e da irreverência pernambucana da Academia da Berlinda.
A programação também reserva momentos intimistas, como o concerto de Edu Lobo na Cultura Artística, um dos mais celebrados compositores da MPB, e a fusão ibérica de Manuel de Oliveira, Carles Benavent e João Frade no espetáculo “Ibéria”.
Cinema, pensamento e formação
O MIMO não se limita ao palco musical. Sua Mostra de Cinema traz um recorte consistente de produções que transitam entre memória, resistência e experimentação. Entre os destaques, estão Eu Sou o Samba – Mas Pode Me Chamar de Zé Keti (2024), longa que revisita a trajetória do compositor carioca, e As Dores do Mundo – Hyldon (2025), que mergulha na obra e pensamento de um dos ícones da soul music brasileira. O público ainda terá acesso a títulos que resgatam figuras emblemáticas como Gerson King Combo e narrativas que investigam as raízes do samba, do frevo e de expressões afro-brasileiras.
No Fórum de Ideias, artistas e intelectuais compartilham reflexões sobre criação, identidade e resistência. Nomes como Lirinha, Roberto Fonseca e Edu Lobo participam de conversas mediadas pela jornalista e pesquisadora Chris Fuscaldo, ampliando a experiência para além do entretenimento, em direção ao pensamento crítico e à valorização da cultura como campo de luta e afirmação.
Já os workshops Petrobras, realizados na Praça das Artes, oferecem experiências imersivas com mestres da música, como Carlos Malta, explorando os sopros como esculturas sonoras, e Bernardo Aguiar, que revela a potência rítmica do pandeiro. O espaço ainda abre diálogos sobre música de protesto, descolonização, flamenco e tradições da Ilha da Reunião, promovendo o encontro entre pesquisa e prática.
Cultura como território coletivo
A proposta do MIMO Festival em São Paulo transcende o entretenimento: trata-se de um gesto político e social de ocupação da cidade pela arte. Ao levar programação de excelência a locais como o Vale do Anhangabaú e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o festival inscreve-se no tecido urbano como uma celebração da memória e da coletividade.
Com entrada gratuita em todas as atividades, o evento reforça o compromisso de ampliar o acesso à cultura, estimulando a circulação de públicos diversos e transformando a cidade em palco aberto para múltiplas expressões artísticas.
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