Iniciativa pioneira foca na profissionalização de talentos do funk, rap e outros ritmos periféricos, oferecendo desde capacitação a agenciamento em um mercado em franca expansão, mas carente de suporte especializado.

A ascensão da música urbana e periférica no Brasil é inegável, com artistas de gêneros como funk e rap conquistando expressivas fatias do mercado e desafiando domínios historicamente estabelecidos. No entanto, esse crescimento exponencial frequentemente não encontra um ecossistema de negócios preparado para sustentar e potencializar essas carreiras a longo prazo. Para endereçar essa lacuna crucial, surge em Belo Horizonte o hub criativo Cria.co, um projeto dedicado a oferecer a infraestrutura e o conhecimento necessários para que esses talentos não apenas brilhem, mas se consolidem.

À frente da Cria.co está Carolina de Amar, uma figura com profundo conhecimento do cenário cultural mineiro, cofundadora da empresa A Macaco e uma das idealizadoras do renomado Festival Sarará. Sua trajetória iniciou-se justamente nas cenas funk e hip-hop, e é a partir dessa vivência e do desejo de retribuir à base que a impulsionou, que ela concebeu o hub. "Apesar do avanço da música urbana de BH no Brasil e no mundo, ainda enfrentamos uma escassez de profissionais preparados para gerir carreiras com visão de futuro, administrar catálogos de obras e fonogramas, estruturar turnês com estratégia e consistência e até mesmo lidar com contratantes, editais e formalizações de forma segura," pontua Amar. "A Cria chega para contribuir para que esse movimento de avanço não seja passageiro, como muitas vezes esperam dos nossos gêneros, mas sim para que ele se fortaleça e se estabeleça como parte essencial do futuro da música brasileira."

A Cria.co se propõe a ser mais do que um selo tradicional; ela se posiciona como uma plataforma de inteligência artística e profissionalização. Sua atuação é multifacetada, abrangendo seis pilares centrais: incubadora de talentos, estúdio de gravação, editora musical, serviços de distribuição, agenciamento artístico e programas de capacitação. Essa abordagem integrada visa atender tanto artistas quanto suas equipes, selos independentes e demais profissionais da cadeia produtiva musical.

Catarina Capelossi, produtora executiva e Label Manager da Cria.co, enfatiza o caráter colaborativo e acessível do projeto: "A Cria.co só é um hub porque a forma da gente trabalhar é acolhedora em integrar tudo que se conhece entre as partes. Chegamos para tornar viável e acessível o nosso conhecimento, desde a nossa linguagem até a forma de abordar e receber as pessoas." O foco reside na curadoria apurada, na formação contínua e no desenvolvimento estratégico de carreiras, oferecendo suporte desde o planejamento inicial até a gestão de direitos autorais e otimização da performance digital.

A relevância de tal iniciativa é sublinhada pelo panorama musical atual. Dados de 2024 do Spotify, por exemplo, ilustram o domínio crescente do funk: MC Ryan SP figurou como o segundo artista mais ouvido no país, com Mc IG e MC PH também no top 5 (4º e 5º lugares, respectivamente). Esse protagonismo evidencia a potência cultural e comercial desses gêneros, tornando ainda mais premente a necessidade de estruturas como a Cria.co.

Em sua fase inicial, o hub já conta com um portfólio de artistas que reflete a vitalidade da cena de BH, incluindo MC Vitin da Igrejinha (criador do sucesso "Baile do Morro", que ultrapassa 200 milhões de execuções digitais), Maika, Brandu, PS e DJ Lucas BHZ. A primeira ação de capacitação será um curso de Produção Artística Para Shows, com detalhes a serem anunciados em breve. "Quando uma música estoura, as demandas de palco chegam rápido, e nem sempre o entorno do artista está preparado para responder a isso com estrutura," explica Carolina de Amar. "Nosso objetivo é capacitar essas pessoas com as ferramentas e conhecimentos essenciais para atuar de forma profissional." Outros workshops sobre gestão de carreira, direitos autorais e marketing musical estão previstos ao longo do ano.


A PROFISSIONALIZAÇÃO DA PERIFERIA E SEUS HORIZONTES

A Cria.co representa um avanço significativo e uma resposta oportuna às dinâmicas do mercado musical brasileiro. Ao se propor a instrumentalizar artistas e agentes culturais da periferia com ferramentas de gestão e desenvolvimento de carreira, o hub ataca uma vulnerabilidade histórica desses movimentos: a dificuldade de converter efervescência cultural em estruturas profissionais sustentáveis. A expertise de suas fundadoras no circuito cultural de Belo Horizonte é um ativo valioso que confere solidez à proposta.

Entretanto, a empreitada de "organizar" ou "profissionalizar" manifestações artísticas que frequentemente encontram sua força na espontaneidade e na autonomia criativa não está isenta de complexidades. O desafio reside em encontrar um ponto de equilíbrio onde a busca por eficiência mercadológica e sustentabilidade financeira não sufoque a autenticidade ou a liberdade transgressora que muitas vezes caracteriza esses gêneros. Como garantir que a "visão de futuro" e as "estratégias consistentes" não acabem por moldar a produção artística a formatos pré-determinados ou mais palatáveis ao mainstream?

Adicionalmente, a escala do impacto de um único hub, mesmo um tão bem concebido como a Cria.co, frente à vastidão e diversidade da produção musical urbana, merece ponderação. A iniciativa pode, e espera-se que sim, servir de modelo e inspiração. Contudo, uma transformação mais profunda do ecossistema demandaria a proliferação de projetos análogos e, crucialmente, o fortalecimento de políticas públicas que efetivamente invistam na infraestrutura cultural das periferias.

Por fim, é vital que o processo de profissionalização não crie, paradoxalmente, novas barreiras de entrada ou hierarquias que repliquem, sob nova roupagem, dinâmicas de exclusão. O papel da Cria.co, para além de oferecer serviços, será também o de cultivar um ambiente de autonomia, pluralidade e senso crítico, assegurando que o fortalecimento da cena seja, de fato, uma emancipação coletiva e diversificada, consolidando a música periférica como um pilar inabalável e multifacetado da cultura brasileira.

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