Com curadoria que justapõe potências da música brasileira, evento se aprofunda como território de afirmação política e celebração da memória e do futuro LGBTQIA+ no coração de São Paulo.

Mais do que um festival, uma tese. A edição 2025 do Castro Festival, agendada para 21 de junho no Vale do Anhangabaú, transcende a função de mero evento musical para se firmar como uma robusta plataforma de disputa de narrativas. Sua realização na data que antecede a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo não é coincidência logística, mas uma declaração de pertencimento a um ecossistema de manifestações que tensionam e expandem o debate público. A curadoria, ao anunciar Ludmilla e Ney Matogrosso como forças motrizes de seu line-up, articula uma poderosa declaração sobre tempo, identidade e legado.

O eixo curatorial propõe uma justaposição de alta voltagem simbólica. De um lado, Ludmilla, a força disruptiva do pop contemporâneo, cuja trajetória é um manual de subversão de lógicas mercadológicas e de afirmação artística. Sua fluidez entre o funk, o pagode e o R&B não é apenas versatilidade, mas um ato de soberania criativa que dialoga diretamente com uma nova geração que se recusa a caber em rótulos. Do outro, Ney Matogrosso, o corpo-monumento da vanguarda nacional, cuja existência performática é, em si, um ato contínuo de insubordinação estética e política. Sua presença não é um aceno nostálgico, mas a materialização da resistência que pavimentou caminhos.

A escalação de Ney Matogrosso, em particular, reverbera com rara potência o mote que norteará a Parada de 2025: "Envelhecer LGBT+ – Memória, resistência e futuro". Tê-lo no palco central é oferecer uma aula viva sobre a historicidade das lutas e a dignidade da permanência, um contraponto fundamental à cultura do efêmero.

Expandindo essa tese central, a programação se desdobra em dois territórios sonoros. O Palco Colors se firma como a arena do pop político e da performance, acolhendo, além dos headliners, a sofisticação conceitual de Urias. O Palco Twin Peaks, por sua vez, mergulha nas texturas da música eletrônica de vanguarda, um espaço consagrado como refúgio e celebração, comandado por nomes essenciais da cena como Nat Valverde, o duo From House to Disco (Bruna Ferreira e Livia Lanzoni), Luísa Viscardi e o aclamado projeto Fatnotronic (Rodrigo Gorky e Phillip A.).

O Castro Festival reitera, assim, seu DNA de ativismo cultural. A ocupação simbólica do Vale do Anhangabaú é a continuidade de uma trajetória marcada por ações de impacto, como o hasteamento da bandeira LGBT+ no MASP e a promoção de oficinas de capacitação para pessoas trans. O evento não é apenas um palco, mas um agente que compreende a cultura como ferramenta indispensável para a construção de memória coletiva e para a reivindicação de um futuro mais equânime. Em 2025, ele se propõe a ser menos um aquecimento para a Parada e mais um de seus capítulos fundamentais: o que celebra, questiona e eterniza as narrativas de quem veio antes, de quem está agora e de quem virá.

SERVIÇO:

  • Evento: Castro Festival 2025
  • Data: 21 de junho de 2025
  • Local: Vale do Anhangabaú, Centro, São Paulo (SP)
  • Atrações: Ludmilla, Ney Matogrosso, Urias, Nat Valverde, From House to Disco, Luísa Viscardi, Fatnotronic.
  • Estrutura: Palco Colors (Pop & Performances) | Palco Twin Peaks (Música Eletrônica)
  • Ingressos: @ingresse
  • Classificação Etária: 18 anos