Em um cenário musical que clama por alívio, a banda paulistana dobra a aposta na dissonância e entrega um single que é um tratado sobre a necessidade do isolamento como ferramenta de sobrevivência.

Crédito: Bruno Valente

Em uma era de gratificação instantânea e estéticas pasteurizadas, o ato de criar música que fere e confronta tornou-se, em si, um gesto de negação. É precisamente nesse território de antagonismo que a banda paulistana Homeninvisivel finca sua bandeira com o novo single, 'Navalhas'. Mais do que uma canção, a faixa é uma declaração de intenções, um manifesto sonoro que rejeita o efêmero e mergulha de cabeça na complexidade da condição humana. Lançada como prévia de um EP que chegará em julho, a música é a crônica de uma retirada estratégica, um mergulho no "quarto escuro" da alma para se reencontrar.

A arquitetura sonora de 'Navalhas' é um labirinto deliberadamente inóspito. A fúria calculada do post-hardcore, que remete à urgência de atos como Touché Amoré, serve de alicerce para as catedrais melancólicas e ruidosas do shoegaze, evocando a densidade de Nothing ou Slowdive. Não se trata de uma fusão amigável, mas de uma tensão constante, onde guitarras cortantes como o título sugere abrem fendas em muralhas de distorção. A produção, a cargo de Dan e Fe Uehara (do Bullet Bane), foge do polimento excessivo, optando por uma crueza que valoriza o impacto visceral de cada nota, transformando o Estúdio Toth em um laboratório de angústias sonoras.

Liricamente, a Homeninvisivel se recusa a oferecer respostas fáceis. 'Navalhas' aborda o poder dilacerante das palavras e a decisão consciente de se isolar não como fuga, mas como um ato de autocuidado radical. O "quarto escuro" é a metáfora central para esse espaço de confronto, um vácuo necessário em um mundo que exige nossa presença e performance ininterruptas. É a aceitação de que, por vezes, a única forma de curar é se afastar do que adoece, mesmo que a fonte do mal seja o outro, ou pior, nós mesmos.

Essa postura de negação ao que é palatável é o DNA da banda. Desde sua ética DIY, que a posiciona como arquiteta de seu próprio destino, até a sua proposta artística, a Homeninvisivel existe para provocar, não para entreter. Suas composições, influenciadas tanto pela poesia urbana de São Paulo quanto pela atitude contestadora de veteranos como Dead Fish, são crônicas de desordem, crises de identidade e a luta por validação em um ambiente hostil.

O quarteto formado por Vinicios Lemos (Baixo/vocal), Felipe "Hari" Martins (Guitarra/vocal), Lucas Barbosa (guitarra) e Felipe "Tucca" Costa (bateria) entende que a verdadeira arte não é a que conforta, mas a que transforma. Seus shows são conhecidos por serem ritos de catarse coletiva, onde a barreira entre palco e público se desfaz em meio à imprevisibilidade e à entrega física.

Portanto, 'Navalhas' não é apenas um single de uma banda em "nova fase". É a reafirmação de um caminho escolhido a contrapelo. Em um tempo que valoriza o plástico, a Homeninvisivel oferece carne, osso e nervos expostos. E o faz com a convicção de quem sabe que a música mais importante não é a que nos ajuda a esquecer, mas aquela que nos obriga a lembrar.

Formação:

  • Vinicios Lemos: Baixo e vocal
  • Felipe "Hari" Martins: Guitarra e vocal
  • Lucas Barbosa: Guitarra
  • Felipe "Tucca" Costa: Bateria

Para mais informações, acompanhe a banda:

Ouça 'Navalhas' e confronte o silêncio: https://ditto.fm/homeninvisivel_navalhas