Em decisão unânime, conselho da premiação elege o legado de insubmissão artística e potência lírica de Cazuza como o grande homenageado de 2026, sinalizando a contínua relevância de sua obra transgressora.

Cazuza - Divulgação

Num movimento que reafirma a perenidade dos discursos que definem a identidade cultural do Brasil, o Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira (PMB) anunciou sua escolha para a grande homenagem de 2026: Cazuza. O cantor, compositor e poeta, cuja obra incandescente segue desafiando o tempo, foi eleito por unanimidade para ser a figura tutelar da 33ª edição do evento. Mais do que um tributo, a decisão representa uma declaração de princípios sobre a arte que se mantém necessária e visceral.

A consagração foi selada durante a reunião de junho do Conselho do Prêmio, um verdadeiro panteão da música nacional. Nomes como Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Karol Conká, Zélia Duncan, Antônio Carlos Miguel, Giovanna Machline e o idealizador do prêmio, Zé Mauricio Machline, chancelaram a escolha. A comunicação oficial, feita por telefone à mãe do artista, Lucinha Araújo, foi descrita como um momento de celebração e entusiasmo partilhado.

Para Zé Mauricio Machline, a homenagem transcende o simples ato de recordar. "Celebrar Cazuza é celebrar a coragem, a liberdade e a potência de uma obra que segue viva e necessária", afirma o diretor. "Sua música e sua poesia atravessaram gerações e continuam a ecoar nas vozes e nos sentimentos de milhões de brasileiros”. A declaração sublinha a intenção de não apenas revisitar, mas de reposicionar o legado de Cazuza no debate contemporâneo.

A trajetória do artista, autor de crônicas musicadas de uma era como "O Tempo Não Para", "Codinome Beija-Flor" e o hino de ceticismo e esperança "Brasil", será a espinha dorsal conceitual da cerimônia de 2026. Espera-se uma noite de releituras ousadas, promovendo um diálogo entre diferentes gerações de intérpretes e a obra atemporal do homenageado, em paralelo à premiação dos artistas mais relevantes do ano.

Um Conselho, Múltiplas Visões

A dinâmica da escolha reflete a própria essência plural do Prêmio. Zélia Duncan, em sua estreia como conselheira, descreveu o processo como "deliciosamente democrático", uma convergência de visões e experiências. "Aqui é assim: é sobre música, a opinião de cada um, a experiência, o gosto, a visão e, finalmente, saber ouvir. Estou muito feliz com a escolha do Cazuza. Seu nome e obra merecem ser cada vez mais valorizados. E o Prêmio vai realizar exatamente isso, que a gente bote o Cazuza no colo", pontuou, destacando a dimensão afetiva e a responsabilidade cultural da homenagem.

Gilberto Gil, veterano do conselho, ecoou o sentimento de compromisso. "Me sinto muito bem fazendo parte deste Conselho. A música sempre esteve no centro da minha vida, e estar ao lado de pessoas tão envolvidas e conscientes da responsabilidade que temos com a cultura brasileira é uma honra", refletiu Gil, validando a solidez e a continuidade do propósito que une o grupo.

Uma Instituição Fundamental

Desde sua fundação em 1987, o Prêmio da Música Brasileira se estabeleceu não apenas como uma cerimônia de gala, mas como uma instituição fundamental na cartografia da produção musical do país. Sua missão de preservar a herança cultural enquanto investe no futuro se manifesta no reconhecimento da excelência artística em suas múltiplas vertentes.

Ao eleger Cazuza, o PMB de 2026 se posiciona para ser mais do que uma premiação: será uma catarse coletiva, uma reafirmação da liberdade como pilar da criação artística e um convite para que o Brasil, mais uma vez, ouça atentamente a voz de seu poeta exagerado.