Em um mercado fonográfico saturado por fórmulas e personagens, Pedro Palma emerge com uma proposta que destoa pela sinceridade e profundidade emocional. Seu álbum de estreia, EMOCIONAL (Deck), não é apenas uma coleção de faixas ou um compilado de boas ideias sonoras — é um testemunho visceral de um jovem artista que transforma seus próprios dilemas em matéria-prima artística de altíssimo nível.
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Foto: Toni Ferreira |
A construção narrativa começa com um áudio real do primeiro aniversário de Pedro — gesto simbólico e emotivo que antecipa o mergulho autobiográfico proposto. Na sequência, “27” abre o álbum em tom confessional e denso, trazendo à tona o impacto de pensamentos suicidas, a simbologia do “Clube dos 27” e a inquietação de quem lida com a pressão de sobreviver à própria intensidade. Com coragem e sem romantizar a dor, Pedro dá voz a experiências muitas vezes silenciadas.
A faixa-título, “EMOCIONAL”, é o epicentro conceitual do trabalho. Em um arranjo que alia peso e fluidez, Palma afirma seu direito de sentir profundamente, recusando a normatização emocional imposta por uma sociedade que exige equilíbrio como sinônimo de funcionalidade. Trata-se de um manifesto à sensibilidade, embalado por um punk-pop dançante, moderno e pulsante.
Pedro Palma se inscreve numa linhagem contemporânea de artistas que sabem articular dor e melodia, como Olivia Rodrigo, Yungblud, Gayle e Billie Eilish, sem perder o toque nacional que evoca a força crua de nomes como Pitty. Sua entrega vocal é marcada por uma interpretação emocional intensa, quase performática, o que confere às faixas uma expressividade que ultrapassa a superfície sonora.
A produção de Lucas Marmitt é um dos grandes trunfos do álbum. Ao lado de Pedro, o produtor constrói uma sonoridade multifacetada que transita com naturalidade entre a energia crua do rock, as texturas introspectivas do pop alternativo e a urgência emocional do emo contemporâneo. A já conhecida parceria entre os dois, iniciada em 2023 com o single “EU QUERO ME EXPLODIR”, se consolida aqui como uma simbiose artística que valoriza tanto a potência quanto a fragilidade.
No clímax emocional do disco, “SOBREVIVI” se apresenta como um hino à resiliência, não no sentido heroico, mas cotidiano: é a celebração de quem chegou até aqui, apesar dos pesos invisíveis que carrega. E o fechamento com “para Pedro” é profundamente comovente. Trata-se de uma carta do artista ao seu eu do passado, marcada por ternura, compaixão e uma maturidade rara em artistas de sua geração.
EMOCIONAL não é apenas uma boa estreia — é uma declaração de identidade. É o grito de um artista que recusa o papel do “artista perfeito” e se posiciona como um ser humano real, contraditório, sensível e incansavelmente honesto. Pedro Palma faz de sua dor um espaço de encontro e transforma fragilidade em potência criativa. Seu disco estreia como obra relevante, provocadora e artisticamente coesa. É, sem dúvida, um dos lançamentos mais consistentes e impactantes da nova geração da música brasileira
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