Em um movimento audacioso, a banda paulistana troca o circuito de clubes pelo palco do Tokio Marine Hall para 4 mil pessoas. O evento deste sábado (28) é menos um lançamento e mais uma afirmação de status, onde a execução ao vivo determinará se a ambição do novo álbum se sustenta em grande escala.
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Crédito - Fernando Mendes |
Um rito de passagem não se anuncia, ele se impõe. Para o Terno Rei, essa imposição assume a forma e a escala do Tokio Marine Hall. A apresentação marcada para este sábado, 28 de junho, em São Paulo, é ostensivamente o show de lançamento de seu quinto álbum, “Nenhuma Estrela”, mas sua função simbólica é muito maior. Trata-se de um teste de força, uma aposta calculada que busca mover a banda do panteão de "maior nome do indie" para uma posição de inequívoca relevância no mainstream cultural brasileiro. A questão que paira no ar não é se o público irá, mas se a banda conseguirá preencher a vastidão daquele palco com a mesma densidade emocional que consagrou sua carreira em espaços mais íntimos.
Lançado em abril pelo selo Balaclava Records, “Nenhuma Estrela” é um documento de maturação deliberada. O álbum articula com precisão a gramática sonora que o grupo vem refinando há mais de uma década — o dream pop etéreo, a melancolia do pós-punk, as guitarras que dialogam com o shoegaze —, mas o faz com um verniz de produção mais polido e uma ambição expansiva. A arquitetura sonora, erguida sobre sintetizadores que remetem diretamente a nomes canônicos dos anos 80 como The Blue Nile ou Depeche Mode, serve de alicerce para uma lírica que enfrenta a crise dos trinta anos: a reflexão sobre o tempo, a perda da juventude e a busca por novos significados.
O desafio de um disco como este é transcender a mera citação de suas influências. Faixas como a dançante “Tempo” — uma incursão calculada em territórios do New Order com vocais de Clara Borges (Paira) — ou a ode ao trip hop em “Próxima Parada” demonstram uma intenção clara de alargar seu léxico musical. No entanto, é em “Relógio” que a banda faz seu movimento mais audacioso. A participação de Lô Borges não é um mero feat, mas um ato de legitimação, uma tentativa de se inscrever em uma linhagem nobre da música brasileira. A canção, descrita pelo grupo como "a mais elegante do álbum", carrega o peso de corresponder à genialidade do Clube da Esquina que ela própria evoca.
A pressão inerente a este momento é verbalizada pelo vocalista Ale Sater: "será o maior show próprio de nossa carreira, então naturalmente estamos muito ansiosos”. A ansiedade, aqui, não é apenas nervosismo pré-show, mas o reconhecimento do que está em jogo. A performance ao vivo terá a tarefa de provar que a sofisticação e a introspecção de “Nenhuma Estrela” não se perdem na transição para um espetáculo de grande porte, um desafio notório para bandas cuja força reside nas nuances e sutilezas.
A escolha do quarteto curitibano terraplana para a abertura reforça a narrativa de uma cena coesa e em ascensão, curada pelo selo Balaclava. Longe de ser um mero ato de aquecimento, o terraplana chega com o lastro de uma turnê internacional que incluiu o prestigiado festival SXSW e a aclamação de seu segundo álbum, natural. Sua presença solidifica o evento como uma vitrine do atual estado da arte do rock alternativo nacional, um ecossistema que se prova capaz de gerar artistas com relevância global.
No final das contas, o show de sábado é um referendo. O Terno Rei já provou sua competência em compor a trilha sonora de uma geração. Agora, precisa provar que essa trilha sonora tem a envergadura necessária para ecoar em arenas. Resta saber se, sob as luzes ofuscantes do Tokio Marine Hall, a banda encontrará “Nenhuma Estrela” ou se consolidará como uma constelação inteira.
SERVIÇO
Terno Rei – Lançamento do álbum “Nenhuma Estrela”
Local: Tokio Marine HallData: 28 de junho de 2025 (sábado)
Horário Abertura Casa: 20h
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