A dor, inevitável e transformadora, tornou-se um dos pilares
criativos do novo álbum do Lagum, As Cores, As Curvas e As Dores do Mundo. Em coletiva de imprensa, os músicos mineiros falaram sobre como experiências pessoais
atravessaram o processo de composição e se transformaram em canções
capazes de conectar banda e público em um terreno comum:
a vulnerabilidade
Music On The Road — Neste
novo trabalho, a dor aparece como um ponto de partida criativo. Como cada um
de vocês conseguiu transformar esse sentimento em música?
Pedro — Eu sempre vi a dor
e os momentos trágicos como pontos de virada, como se a vida dissesse: “não
é por aqui, é por ali”. Nesse disco, vivi dores muito marcantes. A mais
forte foi em um evento na Barra do Sahy, no litoral norte de São Paulo,
durante a maior chuva da história do Brasil. Foi uma tragédia, e eu
presenciei tudo de perto.
Isso me fez refletir sobre a vida, sobre propósito, sobre meu trabalho não
ser só trabalho. Pude ajudar a comunidade, estar próximo da família e dos
amigos, e isso me inspirou a escrever
A Última Nuvem do Céu. Ali vi a
vida e a morte numa linha muito tênue. Essa experiência me transformou e se
refletiu no álbum.
Até músicas que não falavam diretamente sobre dor, como
A Cidade, acabaram ganhando esse
sentido com o público, que a usou em homenagens a pessoas que se foram. Acho
que a dor é um grande ponto de conexão entre as pessoas e de crescimento.
Music On The Road — E
como essa temática se conectou entre vocês quatro?
Jorge — Eu consegui
canalizar momentos de dor em
Desvantagens. Vivi um
relacionamento à distância por alguns anos, e um dos momentos mais difíceis
era sempre a hora de dar tchau. Esse turbilhão de emoções eu coloquei no
final da faixa, em um solo de guitarra que carrega essa sensação. Foi a
forma de transformar a dor da saudade em música.
Chico — Para mim, a dor
é muito pessoal. Já vivi fases em que a música foi remédio, mesmo sem
entender a letra. Às vezes, apenas uma melodia, uma harmonia, um acorde
específico já traziam conforto. Essa sensação de desconforto que se
transforma em alívio sempre me marcou.
Brincar com essas possibilidades harmônicas e conduzir esse sentimento foi
algo que senti muito forte nesse álbum. Ele traduz bem como a dor pode se
tornar arte.
Com experiências singulares, mas complementares, Lagum constrói um retrato coletivo da dor — não como fardo, mas
como força criativa e possibilidade de conexão.
As Cores, As Curvas e As Dores do Mundo
se revela, assim, um trabalho que celebra não apenas as cicatrizes,
mas também as transformações que nascem delas.
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