No coração de São Paulo, onde o concreto se impõe sobre a paisagem e as distâncias sociais parecem intransponíveis, a música tem se mostrado uma das ferramentas mais eficazes de costura entre territórios e culturas. É nessa linha que se insere o Projeto Jardim a Jardim, idealizado por Leal, que acaba de lançar o segundo episódio de sua série audiovisual. Intitulado “A Banca”, o registro celebra a força do coletivo fundado no Jardim Ângela e apresenta a faixa inédita “Face Tua”, em mais um passo de uma trajetória que mistura arte, memória e engajamento comunitário. A concepção, direção artística e geral do projeto é assinada por Lua Leça.
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| Foto: Divulgação |
A gênese de um projeto que cruza pontes
O Jardim a Jardim nasceu da inquietação artística e social de Leal, músico que, ainda adolescente, encontrou nos versos dos Racionais MC’s uma lente para compreender as desigualdades da metrópole. Anos mais tarde, já no percurso universitário pela Psicologia, o artista mergulhou em experiências de campo em territórios periféricos que se tornariam fundamentais para sua formação. A convivência com projetos sociais e culturais consolidou uma convicção: a música pode ser mais do que entretenimento — pode ser ferramenta de escuta, pertencimento e mobilização.
Foi assim que surgiu a proposta de conectar bairros que carregam o título de “Jardim”, mas vivem realidades radicalmente distintas: de um lado, Jardins como Paulista, Europa e Guedala; do outro, Ângela, Kagohara, Nakamura e Campo Limpo. O objetivo é claro: transformar as fronteiras da cidade em territórios de encontro, em vez de muros de segregação.
O episódio “A Banca”: um retorno às origens
Após revisitar no primeiro episódio a história de Claudinho, do Poesia Sambasoul, o projeto chega ao Jardim Ângela, distrito que em 1996 foi considerado pela ONU o mais violento do mundo. É nesse território que, em 1999, surge A Banca, movimento juvenil criado para promover eventos de hip-hop como forma de resistência e sobrevivência. O que começou como um grito por espaço tornou-se, ao longo de duas décadas, uma organização estruturada, voltada para a economia criativa e o fortalecimento cultural da periferia.
No episódio, Leal se encontra com DJ Bola (fundador), Dom Maka, Diel Owdi, Leo Mello e Tati Pi. O registro é tanto um retrato documental de uma organização fundamental para a cultura periférica paulistana quanto uma reafirmação de vínculos que atravessam gerações. Mais do que revisitar histórias, o episódio propõe pensar o papel da música e da coletividade como estratégias de enfrentamento às desigualdades urbanas.
A inédita “Face Tua” e a poética do espelho
Um dos destaques do episódio é a estreia de “Face Tua”, composição de Leal que reflete sobre o modo como nossas relações se constroem a partir do olhar do outro. A canção parte da ideia de que o autoconhecimento é sempre parcial e que os reflexos externos — os olhares alheios — nos oferecem perspectivas que ampliam, tensionam e, por vezes, transformam nossa própria identidade.
“Trazer para a roda essa percepção que temos acerca do outro pode abrir espaço para que a relação se expanda a partir destes elementos externos. Assim criamos novas possibilidades de nós mesmos e de nossas relações”, afirma Leal sobre a faixa.
O episódio também inclui a performance coletiva de “Maracatu de Chão”, composição assinada por integrantes de A Banca e parceiros, reforçando a dimensão colaborativa que constitui a essência do projeto.
Música como ação social e estética híbrida
O Jardim a Jardim não se limita a um recorte estético, mas aposta na mistura de gêneros como hip-hop, reggae, samba, fandango, dub e Manguebeat. Essa pluralidade sonora traduz a própria experiência de uma cidade marcada pela heterogeneidade cultural e pela coexistência de mundos contrastantes.
Ao mesmo tempo, a iniciativa reafirma uma postura: ser músico é também ser cidadão. Nesse sentido, o projeto não é apenas uma proposta artística, mas um movimento de ação cultural que conecta territórios e evidencia a urgência de pensar a cidade para além de suas fronteiras geográficas e sociais.
Futuro em expansão
Leal prepara para os próximos meses o lançamento do álbum “LEAL” em vinil e uma sequência de novos episódios, com participações de artistas convidados que devem ampliar ainda mais o alcance do projeto. O selo e produtora Jardim a Jardim já se posiciona como um catalisador de encontros e um espaço de curadoria comprometido com o diálogo entre centro e periferia.
O episódio “A Banca” reafirma que, diante das fissuras urbanas, a arte pode ser uma ponte concreta: um convite a repensar São Paulo não como uma cidade de muros, mas como um conjunto de jardins em constante cultivo.
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- LEAL - Apresentação, Voz, Violão e Cavaquinho
- DOM MAKA – Baixo
- DJ BOLA – DJ
- DIEL OWDI - Guitarra e Voz
- TATI PI – Voz
- LEO MELO – Percussão
- LUA LEÇA - Concepção, Direção Artística e Geral
- RICARDO LEAL - Pesquisa, Curadoria e Roteiro
- BRENO KRUSE - Direção de produção
- BIA MACEDO - Produtora Executiva A Banca
- CAINÃ TAVARES – Câmera
- JOMA NIGRA – Câmera
- IVAN MUNIZ - Som direto
- GERALDO NETO - Captação musical e mixagem
- ANTÔNIA MARTINS - Cobertura e redes
- VITÃO SANTIAGO - Assistência de roteiro
- JULIA LEITE – Montagem
- GABRIELA NARAKI - Coordenação de pós
- JUDÁ MOTA - Cor e assistência de montagem
- LINKART - Direção criativa e planejamento
- ACERVO ATIVO – Catalogação
- LF+C - Consultoria comercial
- PERFEXX - Assessoria de imprensa
- JARDIM A JARDIM - Selo e produtora
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