Mais do que um espetáculo, o encontro de Chico César e Zeca Baleiro no Tokio Marine Hall, em 6 de setembro, representa um marco de continuidade e celebração da canção brasileira. Ao subir juntos ao palco na casa que comemora 30 anos de história como Tom Brasil, os dois artistas reafirmam a força de uma parceria que atravessa gerações e sintetiza a pluralidade da música popular brasileira.
Foto: Vange Millet |
O show da turnê “Ao Arrepio da Lei” vai além da divulgação de um álbum recém-lançado: ele simboliza a capacidade de resistência cultural em tempos de fragmentação, reunindo poesia, afeto e crítica social em uma experiência que conecta passado e presente. Em São Paulo — cidade que acolheu e projetou ambos em diferentes momentos de suas trajetórias —, o espetáculo assume contornos de rito, celebrando não apenas uma amizade transformada em obra, mas também a vitalidade da cena musical que o Tokio Marine Hall ajudou a sustentar ao longo de três décadas.
Uma amizade transformada em obra
Embora tenham trilhado carreiras independentes, Chico César e Zeca Baleiro caminham lado a lado desde os anos 1990, partilhando palcos, ideias e afinidades estéticas. O que antes se traduzia em participações pontuais ou colaborações isoladas, ganhou forma plena durante a pandemia, quando a interrupção da rotina de shows abriu espaço para um mergulho criativo.
Entre maio de 2020 e o início de 2021, os artistas compuseram mais de 20 músicas juntos — processo que misturou reggaes, xotes, baladas e rocks, refletindo tanto a diversidade da música popular brasileira quanto a inquietude de dois criadores que nunca se acomodaram em fórmulas prontas. “Ao Arrepio da Lei” nasce desse período, com a densidade de quem atravessou um tempo de incertezas e a liberdade de quem pôde se reinventar.
O repertório: entre inéditas e clássicos
No show, o público encontrará o equilíbrio entre as novas canções do álbum e os sucessos que marcaram suas trajetórias individuais. Há espaço tanto para o calor de músicas mais festivas quanto para momentos de maior introspecção, em que a força poética das letras se sobressai.
Esse trânsito entre a energia popular e a delicadeza reflexiva é marca registrada de ambos. Chico César, com sua poesia carregada de brasilidade e crítica social, e Zeca Baleiro, com sua verve irônica e melódica, criam juntos um espetáculo que reafirma a canção brasileira como espaço de experimentação e permanência.
Bastidores e colaborações
A banda que os acompanha reforça o peso do projeto: Alexandre Fontanetti (guitarra), Aline Falcão (teclados), Jota Erre (bateria), Layla (percussão) e Swami Jr. (baixo e direção musical).
Não por acaso, o próprio Swami Jr. assina a produção musical do disco. O álbum ainda conta com a produção de Érico Theobaldo em “Lovers” e de Alexandre Fontanetti em “Verão”. A estética visual também é fruto de laços antigos: as fotos de divulgação e a capa são de Vange Milliet, parceira artística dos dois desde os anos 1980, com projeto gráfico de Andrea Pedro.
O lugar de Chico e Zeca na música brasileira
O encontro em “Ao Arrepio da Lei” não é apenas a soma de duas trajetórias, mas uma síntese de sensibilidades que marcaram a música brasileira dos últimos 30 anos. Chico César, com sua raiz nordestina transbordando em canções como Mama África e À Primeira Vista, e Zeca Baleiro, dono de clássicos como Telegrama e Flor da Pele, representam duas vertentes de uma mesma tradição: a capacidade de unir a canção popular ao lirismo poético, sem abrir mão de olhar crítico sobre o país.
Esse show, portanto, carrega uma dimensão dupla: é a celebração de uma amizade transformada em música e também um gesto de resistência cultural, ao reafirmar a potência da canção como veículo de memória, afeto e transformação.
Serviço
Chico César e Zeca Baleiro “Ao Arrepio da Lei”
Estacionamento com Hot Valet. Aceita-se dinheiro e cartões de débito e crédito (Visa, Mastercard, Credicard e Diners). Não aceita cheque.
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