Com Liniker, Cidade Negra, Marina Sena, Tássia Reis e Tim Bernardes, a abertura da 11ª edição reafirma o Coala Festival como plataforma essencial da música brasileira contemporânea.
O Coala Festival iniciou sua 11ª edição nesta sexta-feira (5), no Memorial da América Latina, em São Paulo, consolidando-se como um dos raros espaços em que o presente da música brasileira se encontra com sua memória e com projeções para o futuro. O primeiro dia reuniu artistas em diferentes fases de carreira, que juntos desenharam um retrato vigoroso da cena atual.
LINIKER: MÚSICA COMO CUIDADO E CATARSE
Última atração da noite, Liniker subiu ao palco principal como quem ocupa um território afetivo e político. O show de Caju (2024), trabalho que ampliou seu alcance e a consagrou como uma das vozes mais relevantes da atualidade, foi recebido como ritual de comunhão: faixas recentes se misturaram a sucessos como “Tudo”, cantados em coro por milhares de vozes.
Em “Febre”, parceria com Thiaguinho, o público transformou o Memorial em uma massa sonora que ecoava além do espaço físico. Mais do que performance, havia entrega. Em dado momento, Liniker interrompeu o espetáculo para que bombeiros civis pudessem socorrer fãs que passavam mal — gesto que evidenciou sua liderança afetiva, onde música e cuidado caminham lado a lado.
MARINA SENA E A ASCENSÃO DE UMA POPSTAR BRASILEIRA
Se em 2022 Marina Sena estreava no Coala ainda como promessa, desta vez retornou como estrela consolidada. Coisas Naturais (2025), seu terceiro álbum, pautou o repertório com arranjos orgânicos e vigorosos, impulsionados por banda completa e naipe de metais. O público, numeroso e fiel, devolveu cada verso em coro ensurdecedor, especialmente em faixas como “Doçura” e “Numa Ilha”.
A artista mineira sintetiza um ponto de virada: de fenômeno de nicho a voz popular, Marina provou no Coala que ocupa um lugar definitivo no panteão pop nacional.
TÁSSIA REIS: CONTUNDÊNCIA E DIÁLOGO
Coube a Tássia Reis abrir a noite. Com o show de Topo da Minha Cabeça (2024), a artista mostrou porque é referência na expansão de fronteiras sonoras. Samba, rap, soul e jazz se entrelaçaram em faixas como “Rude” e “No Seu Radinho”.
A participação de Kiko Dinucci em “Previsível” ampliou o diálogo, que se estendeu para surpresas como versões de “Veneno” e “Orunmila”, com Tássia assumindo backing vocals. O encontro ainda ganhou potência com a presença de Monna Brutal em “Dollar Euro”, prova de que o Coala é também território de experimentação e trocas inesperadas.
CIDADE NEGRA: MEMÓRIA E RESISTÊNCIA DO REGGAE BRASILEIRO
No eixo entre tradição e contemporaneidade, a Cidade Negra trouxe a energia de quatro décadas de carreira. Toni Garrido e Bino Farias conduziram clássicos como “O Erê”, “Onde Você Mora?” e “A Estrada”, além de releituras de “Johnny B. Goode” e “Is This Love”, de Bob Marley. A apresentação funcionou como fio condutor entre gerações, lembrando que o reggae nacional segue pulsante e resistente.
TIM BERNARDES: A SOFISTICAÇÃO DO INTIMISMO ORQUESTRAL
No palco TIM, dentro do Auditório Simón Bolívar, Tim Bernardes apresentou uma versão orquestral de seu repertório solo em Raro Momento Infinito, revisitando composições de Recomeçar (2017) e Mil Coisas Invisíveis (2022) com arranjos camerísticos que lotaram o auditório. A performance ressaltou seu lugar como um dos compositores mais sofisticados da cena contemporânea.
COALA: UM FESTIVAL EM MOVIMENTO
Criado em 2014, o Coala Festival construiu uma trajetória que o posiciona como um dos principais encontros da música brasileira. Mais do que line-up, o festival se afirma como curadoria da memória e do presente, reunindo artistas de distintas gerações sem perder de vista o futuro. A edição de 2024 reuniu 40 mil pessoas, e a atual já indica público e impacto semelhantes — ou maiores.
Neste sábado (6), o festival terá Nando Reis em encontro inédito com Chico Chico, além de Silva, Black Alien e Terno Rei. O domingo (7) promete encerramento apoteótico com Caetano Veloso, BK’, Dora Morelenbaum e um show conjunto de Josyara, Cátia de França e Juliana Linhares.
Se a abertura de sexta-feira serviu de termômetro, o Coala 2025 caminha para se consolidar não apenas como festival, mas como uma das narrativas mais consistentes da música brasileira na última década.
0 Comentários