Belém se prepara para se tornar, mais uma vez, a capital da música brasileira. Entre os dias 12 e 14 de dezembro, o Festival Psica 2025 – O Retorno da Dourada tomará ruas históricas da Cidade Velha e o imponente estádio do Mangueirão, em uma celebração que atravessa gerações, ritmos e fronteiras. São mais de 70 atrações, que vão do samba ao manguebeat, do tecnobrega à cumbia amazônica, do rap periférico à eletrônica experimental, consolidando o festival como um dos mais ousados e plurais do país.
No centro dessa constelação sonora, Dona Onete, aos 86 anos, brilha como headliner. Seu espetáculo “Quatro Contas” é mais do que um show: é um manifesto sensorial. Entre água, fogo, terra e ar, a diva do carimbó chamegado revisita clássicos e canções pouco exploradas de sua carreira, em arranjos inéditos que mesclam dança, poesia e cinema. Cada nota, cada passo, cada gesto, transforma o palco em um território vivo, onde a ancestralidade se encontra com a contemporaneidade, reafirmando sua importância única na música amazônica e brasileira.
O samba pulsa com a força de Martinho da Vila e Jorge Aragão, que dividem o palco no emblemático “Canta Canta Minha Gente”. Uma apresentação que é ao mesmo tempo celebração, memória e resistência cultural. O Manga Verde traduz o samba paraense em ritmos regionais e letras que carregam a alma da Amazônia, enquanto o ícone do manguebeat, Nação Zumbi, revisita o álbum seminal Da Lama ao Caos, 30 anos depois de revolucionar a música pernambucana, misturando rock, maracatu e resistência. Di Melo, o “Imorrível”, adiciona sua mistura de soul, funk, groove e psicodelia, uma prova viva de que a música brasileira nunca cessa de se reinventar.
O festival não se limita aos mestres. Luedji Luna, com sua poesia contundente, Urias e Jaloo, com suas fusões vibrantes de pop e identidade amazônica, Edson Gomes, em celebração às cinco décadas de reggae raiz, Viviane Batidão e Carabao, representantes do tecnobrega pirotécnico, AJULIACOSTA, voz premiada do rap nacional, e Carol Lyne, promessa do tecnobrega moderno, ocupam os palcos, mostrando a diversidade sonora que pulsa nas periferias e nos territórios amazônicos.
Palcos como Megazord e Karretinha se transformam em laboratórios sonoros, com soundsystems e DJs de destaque, como Freedom FM, Rubi A Nave do Som, Tudão Crocodilo, DJ Baby Plus Size, Zek Picoteiro e Cleide Roots, conectando público, ritmo e energia em experiências únicas.
No plano internacional, o festival se abre para o mundo: Armando Hernández, colombiano, traz a cumbia raiz em diálogo com a tradição amazônica; The 5.6.7.8’s, trio japonês eternizado em Kill Bill, entrega energia punk e groove; Boris Percus, percussionista franco-martiniquense, funde ritmos caribenhos e DJ set em performances imersivas; Maleïka, com seu projeto Soul System, combina tradição afro-caribenha, soul e eletrônica, e Lucho Pacora, do Peru, apresenta a cumbia amazônica em pesquisa de vinil e ritmos tropicais.
“O Psica é sobre contar outras histórias do Brasil a partir da Amazônia”, afirma Jeft Dias, diretor do festival. “Colocar Martinho da Vila, Dona Onete, Carol Lyne e Urias no mesmo line-up é afirmar que a música popular brasileira é maior e mais diversa do que se costuma mostrar.” Gerson Dias, co-diretor, completa: “Queremos quebrar barreiras, conectando artistas nacionais, amazônicos e internacionais. Mostrar que a margem é potência sonora.”
Além de veteranos e ícones, o Psica celebra emergentes e coletivos inovadores: Selo Caquí, Os Garotin, Marés, Vacilo, Cortejo Encantado e o Corpo Dourado Ball 2.0, performance que une dança, moda e expressões contemporâneas à ancestralidade amazônica. Ian Wapichana, do povo Wapichana, e o rapper Moraes MV reforçam a narrativa de resistência cultural e pluralidade sonora, mostrando que o festival é também território de memória, história e identidade.
Criado em 2012, o Psica já recebeu artistas como Elza Soares, Karol Conká, João Gomes, BaianaSystem, Liniker, Pabllo Vittar e Gaby Amarantos, tornando-se referência em curadoria independente e valorização da música amazônica. A edição histórica de 2024 atraiu mais de 100 mil pessoas e, em 2025, “O Retorno da Dourada” celebra 13 anos de potência sonora, diversidade cultural e reafirma a Amazônia como epicentro da música brasileira contemporânea.
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