The Sisters of Mercy: quando a música se transforma em rito

Há bandas que se escutam; outras que se habitam. O The Sisters of Mercy pertence a essa segunda categoria: não basta ouvi-los, é preciso atravessá-los. E é nesse gesto que reside sua permanência — não no acúmulo de discos, mas na força de uma presença que, há mais de trinta anos, insiste em desafiar o tempo.


No próximo setembro de 2025, quando o Tokio Marine Hall, em São Paulo, receber Andrew Eldritch e sua congregação, não será apenas um show. Será um ritual, uma experiência estética em que a memória se confunde com o presente, e o som se torna um espaço de suspensão.

A poética do silêncio

Em uma era devorada por lançamentos incessantes, a escolha radical dos Sisters é a recusa. Sem novos álbuns desde os anos 90, a banda nos lembra que a ausência também é linguagem, que o silêncio pode ser mais eloquente que a superprodução. Eldritch parece sugerir que a música não precisa ser atualizada: ela apenas retorna, como um mito que nunca se esgota.

Esse gesto é quase filosófico. Em tempos em que tudo é descartável, os Sisters cultivam a permanência. É como se dissessem: não é preciso correr atrás do futuro, basta habitar o agora com intensidade suficiente para que ele se torne eterno.

O abismo entre desejo e morte

Escutar Lucretia My Reflection ou Temple of Love é mergulhar num espaço em que Eros e Tânatos se confundem. O grave eletrônico pulsa como um coração mecânico; a voz de Eldritch surge como um oráculo. Ali, amor e destruição dançam lado a lado, sem jamais se resolverem.

É nesse limiar — entre o êxtase e o abismo — que a música dos Sisters encontra sua potência. Não há catarse fácil, não há refrão que pacifique. Há, antes, um convite ao confronto com nossas próprias sombras.

O Brasil como palco da vertigem

Ben Christo não cansa de repetir: o público brasileiro é uma entidade à parte, um organismo vivo de energia e entrega. E talvez não haja lugar mais adequado para o culto dos Sisters do que este país que vive à beira do excesso — onde a intensidade não é exceção, mas regra.

Se a banda traz a escuridão, nós respondemos com vertigem. O resultado é um pacto: o palco como templo, o público como congregação.

O retorno infinito

Quando a noite de setembro chegar, não se tratará de nostalgia. O que veremos não é uma banda revivendo glórias passadas, mas um eterno retorno. O tempo se dobrará sobre si mesmo, fazendo de cada acorde algo ao mesmo tempo antigo e inaugural.

E talvez seja essa a lição dos Sisters of Mercy: a música não precisa explicar, apenas abrir frestas. Não precisa envelhecer, apenas retornar. Porque certos sons não pertencem ao calendário — pertencem ao abismo onde luz e sombra se encontram.

Eu estarei lá. Não como repórter, nem como fã, mas como alguém que se deixa atravessar por um rito. Porque algumas experiências não se descrevem: se vivem. 

Datas e locais confirmados da turnê sul-americana:

23/09 – Cidade do México, México @ Carpa Velódromo (terça-feira)

Ingressos: https://www.superboletos.com/landing-evento/NIlKQDdsl6pqndd7NPy_tQ

26/09 – São Paulo, Brasil @ Tokio Marine Hall (sexta-feira)

Ingressos: www.ticketmaster.com.br

28/09 – Buenos Aires, Argentina @ Teatro Flores (domingo)

Ingressos: https://www.passline.com/eventos/the-sisters-of-mercy-all-wires-red-south-america-2025

01/10 – Santiago, Chile @ Blondie (quarta-feira)

Ingressos: https://www.eventrid.cl/eventos/atenea/the-sisters-of-mercy-2025

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