Entrevista | Planta & Raiz celebra 27 anos de estrada com “Flor de Fogo”: “É um símbolo de amadurecimento e de continuidade”

 No mês em que completa 27 anos de trajetória, o Planta & Raiz lança Flor de Fogo, seu novo álbum de estúdio — agora disponível nas plataformas digitais, após uma edição em vinil LP que teve as cópias esgotadas rapidamente.

O projeto, que nasceu de um processo criativo coletivo entre os integrantes da banda, traz parcerias especiais e reafirma o compromisso do grupo com a arte, a espiritualidade e a conexão com as novas gerações.

Em entrevista ao Music On The Road, vocalista da banda, falou sobre o simbolismo do título, o processo de composição, o diálogo com os filhos e o rapper MC Ariel, e sobre como o reggae segue como uma força de união e resistência.

Music On The Road - “Flor de Fogo” nasce de uma metáfora que mistura delicadeza e intensidade. Como essa dualidade dialoga com a trajetória do Planta & Raiz, que atravessou quase três décadas de mudanças sociais, tecnológicas e musicais? Hoje você enxerga o disco como um símbolo de continuidade ou de transformação?

Zeider - Eu enxergo esse álbum como um momento de conexão com os nossos fãs, sabe? Um símbolo de amadurecimento mesmo. Tanto nas composições quanto nas melodias e harmonias, conseguimos chegar a um ponto de equilíbrio — elas são simples, mas muito bonitas.

Depois de tanta busca, lançamos um disco com dez belas canções. Como você falou, ele caminha entre o singelo e algo que beira a revolução, a luta. E isso é muito nosso, porque foi tudo feito por nós: produção, arranjos, ideias.

Esse disco representa a união da banda, a generosidade de cada um em entregar o melhor e a maturidade de quem aprendeu a criar junto. É uma continuação da nossa história, mas também um novo começo, feito por prazer — não por obrigação.

Music On The Road - Na faixa “Não Chore”, há uma mensagem de acolhimento e esperança. Como você equilibra suas vivências pessoais com a necessidade de traduzir dores e sonhos coletivos? E, olhando para o Brasil de hoje, que feridas sociais ou emocionais essa canção ajuda a cicatrizar?

Zeider - A gente, como compositor, vive o que está ao redor — é experienciar e presenciar a experiência do próximo. Não Chore é uma mensagem de esperança e um convite à autorreflexão.

Falo sobre a importância de entender o momento presente, sem ansiedade pelo que vem ou pelo que já passou. Quando digo “o dia dá lugar a uma noite sem lua e sem estrelas”, é sobre isso: a tristeza passa, é só mais uma noite.

O Brasil é um berço de talentos, mas é difícil ter acesso à cultura. Muitos encontram força na arte pra revolucionar, outros não. Essa canção é pra todos — pra quem está na luta diária e pra quem já alcançou algo, lembrando sempre de manter os pés no chão e desfrutar da vida.

Music On The Road - Algumas faixas nasceram no DVD “Ao Vivo em Noronha” e agora ganham versões de estúdio. Como foi o processo de transformar a energia crua do palco em algo mais lapidado?

Zeider - A versão de estúdio é quase como a nossa preparação pro show. A vibe foi tão boa que pensamos: “Temos que mostrar isso pro público”.

No estúdio, criamos novas nuances, adicionamos instrumentos — gaita, sax, novos arranjos — e fomos descobrindo detalhes que o ao vivo não revela.

No show é o momento, é a energia pura. No estúdio é mais pensado, mais intimista. Cada formato tem sua beleza.

Music On The Road - O disco traz participações de Laura Pires, Zias Pires e MC Ariel — artistas de universos diferentes. Como essas vozes dialogam com a identidade do Planta & Raiz e com o reggae de hoje?

Zeider - Totalmente. Ter meus filhos — a Laura, de 20 anos, e o Zias, de 15 — junto com o Ariel, que é um fenômeno e um grande irmão, é muito especial.

O reggae é uma música passada de geração em geração. Depois que alguém conhece, quer que o filho e o neto também ouçam.

Nos shows, a gente vê famílias inteiras cantando juntas, a criançada colando, e isso é lindo. Essas parcerias mostram que o reggae segue vivo, conectado com as novas gerações.

Music On The Road - A tiragem do vinil esgotou rapidamente, e agora o álbum chega às plataformas digitais. Como vocês enxergam essa dualidade entre o consumo físico e o digital? O Planta & Raiz ainda pensa a música como uma experiência completa, ou aceita o consumo fragmentado dos tempos atuais?

Zeider - Hoje o consumo é rápido, não tem como fugir disso. Mas eu acredito muito na força do álbum.

Dar o play do começo ao fim é viver a história inteira. Tô ansioso pra ver a galera ouvindo as dez canções na sequência.

Eu tenho uma relação afetiva forte com o vinil — cresci ouvindo discos em família, nos anos 80 e 90. Resgatei esse hábito, e é outra experiência: sem correria, sem trânsito, só você e a música.

Por isso investimos nessa edição com a galera da Três Selos — ficou lindo, com arte, letras, bolachão amarelo. É um disco pra sentir e guardar.

Music On The Road - Olhando pra trás, com 27 anos de estrada, e pra frente, pro futuro da banda: qual é a chama que ainda mantém essa “flor e fogo” acesa? E que mensagem você deixa pra quem acompanha o Planta & Raiz desde o início — e pra quem está chegando agora?

Zeider - Flor de Fogo é justamente essa centelha de criatividade, o poder de criar.

O que nos mantém é essa oportunidade de lançar algo novo e continuar levando música ao mundo.

Minha mensagem é: sejam criativos, procurem boas influências, se alimentem de cultura — tanto das revoluções quanto das coisas simples do cotidiano.

Se a gente usar nosso poder de criação e deixar brilhar a luz do amor que existe em cada um, que é a chama de Deus em nós, a arte sempre vai continuar viva.


Music On The Road - Zeider, obrigado por essa conversa e parabéns pelos 27 anos de história. Que Flor de Fogo siga iluminando o caminho do Planta & Raiz — e de quem caminha junto com a banda desde sempre.

Zeider - Maravilha, Lucas. Obrigado pelo papo e parabéns pelas perguntas. Vamos levar essa mensagem pros quatro cantos. É nóis!

Postar um comentário

0 Comentários