Crítica | A Última Ponta - Planet Hemp se despede dos palcos com potência e protesto em Curitiba

O Planet Hemp encerra sua trajetória com um show histórico em Curitiba pela turnê A Última Ponta. Marcelo D2, BNegão e banda revisitam três décadas de contracultura em uma apresentação marcante, repleta de protesto, nostalgia e energia.

Fotos: @cborges.ph para @musicontheroad__

Um adeus à altura de três décadas de contracultura

O Planet Hemp fez história em Curitiba com um show que uniu memória, protesto e catarse coletiva. A apresentação, parte da turnê de despedida A Última Ponta, marcou o início do fim de uma trajetória de 32 anos de resistência sonora e política.

Comandado por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Nobru, Pedro Garcia e Daniel Ganjaman, o grupo entregou uma performance que foi além do entretenimento — foi uma aula de contracultura, consciência e arte em sua forma mais crua.

Mais que um show: um manifesto audiovisual

No palco, o Planet Hemp reafirmou sua essência combativa. Entre projeções de imagens históricas, manchetes e homenagens, a banda transformou o espetáculo em um documento vivo da contracultura brasileira.

Desde os anos 1990, o grupo ergue bandeiras que continuam atuais: descriminalização da maconha, liberdade de expressão, crítica ao sistema e resistência cultural. Em A Última Ponta, essas pautas ressurgem com força renovada, embaladas por um público que vibra, canta e se reconhece na mensagem.

Ritmos cruzados e energia de resistência

A apresentação percorreu toda a versatilidade do som que definiu o Planet Hemp: rap, rock, hip-hop, hardcore, punk e raggaO público respondeu em uníssono a clássicos como “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Ex-Quadrilha da Fumaça” e “Fazendo a Cabeça”, que abriram o show com potência.

Na sequência, vieram “Mary Jane”, “Phunky Buddha” e “Legalize Já”, seguidas pelas faixas do álbum mais recente, Jardineiro (2023) — entre elas “Onda Forte” e “Nunca Tenha Medo”, com participações de Kamau e Kelvin Mercer (De La Soul)O equilíbrio entre o clássico e o contemporâneo manteve o público imerso em uma atmosfera de celebração e reflexão.

Três décadas de atitude e reinvenção

Antes do show, a Moodgate conversou com a banda sobre o significado das músicas 30 anos depois e o processo de criação de Jardineiro.
As respostas revelaram o que move o grupo desde o início: o desejo de provocar o pensamento e de transformar a arte em ferramenta de consciência coletiva.

O encerramento foi apoteótico, com “100% Hardcore”, “Zerovinteum”, “Samba Makossa”, “Mantenha o Respeito”, “Deisdazseis” e “Contexto”.
Cada faixa reforçou a identidade do Planet Hemp como símbolo de rebeldia, coerência e coerção poética — uma banda que fez do inconformismo sua assinatura.

De símbolo underground a voz de gerações

Nascido no underground carioca, o Planet Hemp rompeu o silêncio imposto ao pensamento crítico e conquistou o mainstream sem jamais diluir sua mensagem.
Entre prisões, censura e controvérsias, o grupo ergueu uma narrativa própria, na qual a marginalidade virou resistência e a resistência virou arte.

Hoje, ao acender A Última Ponta, o Planet Hemp encerra um ciclo histórico com a mesma lucidez e coragem que marcaram sua estreia: criticando, inspirando e desafiando o status quo.

O mundo mudou desde os anos 1990, mas a urgência de suas letras continua pulsante. O legado da banda segue vivo em cada artista e movimento que acredita que a música é uma arma de transformação social.

Planet Hemp, agora e sempre: a última ponta segue queimando. 

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